O pequeno maltrapilho
O pequeno maltrapilho
Ir. José Stival [J. Claraval]
Já a sombra das serranias
Veio os campos despovoar;
Volta o gado às estrebarias,
Todo mundo retorna ao lar...
- “Meu menino, tão maltrapilho,
Nestas horas, aonde vais?!
Não pensaste que, ausente o filho,
Choram tanto os aflitos pais!...”
- “Ah! Senhor, neste mundo triste,
Desde cedo, eu sofri demais;
Pois, para mim nada mais existe,
Desde quando perdi meus pais...
Sem meu pai, como andar tranqüilo?
Sem mamãe, a quem posso amar?!
Ó meus pais, porque, só de ouvi-lo,
Vosso nome me faz chorar...”
“Basta, basta, meu bom menino,
Tenho pena do teu sofrer;
Deus permita que o teu desatino
Te compense de tal viver!
Vem entrando que já é tarde,
E precisas de um bom jantar;
Nesta casa, que o céu te guarde,
Como outrora em teu próprio lar”.
Na cozinha, um jantar se apresta,
A senhora lho vai servir;
Os pequenos lhes fazem festa,
No desejo de o distrair...
Bem jantado, o senhor o chama
Para o quarto onde vai dormir;
Destinou-lhe uma boa cama,
Como a um rei podia convir!
E a seus filhos pergunta ansioso:
“Respondei-me de coração,
E dizei-me se o andrajoso
Aceitas como vosso irmão...”
Antes mesmo de terminada
A proposta de o admitir,
Bate palmas, entusiasmada,
A turminha, para aplaudir.
Da jornada tão fatigante,
Deve o pobre se repousar;
Mas, logo ele se levante,
Saberá do seu novo lar!
E, o café da manhã, à mesa,
Preparou-se um lugar a mais;
Vão chamá-lo, mas – ó surpresa!
Só lhe encontram as “credenciais”:
Numa frase de luz tecida,
Eis o título e os votos seus:
‘MUITO OBRIGADO PELA ACOLHIDA,
VOSSO AMIGO, O MENINO DEUS!’...